Diz-me onde moras...

[Antonio Neves]

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas
águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja…
ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),
como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?",
e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto,
para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes
dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda
à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde),
e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "

(Miguel Esteves Cardoso)


Divirtam-se e bom Fim-de-Semana

[dmg]

E ainda há o pessoal de : São mansos!

[master]

Viva Domingos

São Manços fica mesmo ao pé da terra da minha mãe, Monte do Trigo, uma nome ainda assim normal para pleno alentejo. Lê-se como se fossem pouco bravos, mas escreve-se com "ç". Há até a história da placa que o pessoal por lá arrancou que dizia "São Manços 4", referente aos quilómetros da localidade ao ramal para a estrada de Évora. Pelos vistos por lá as pessoas nã gostaram da ideia de que quatro dos seus machos fossem conhecidos como os "cornos mansos"...

Mas para aumentar o leque de nomes estranhos deste nosso país, cá vão mais uns contributos:

A-dos-Cãos (Loures) - sim escreve-se mesmo Cãos, por incrivel que pareça);
Perolivas (Reguengos de Monsaraz) - sempre achei este nome muito cómico;
Corte do Pinto (Mértola - Este nome para os zuquinhas é o máximo - e quem não sabe o que significa pinto em brasileiro... vá-se informar com o Fred ou com o Wesley, lol);
Picha - por onde passava a volta a Portugal em bicicleta e que resultava sempre naquela entusiástica e saturante reportagem em que todos os anos os repórteres da RTP perguntavam ao pessoal da terra se a Picha tinha crescido no último ano...

Por último, deixo-vos uma preciosidade das corridas de cicloturismo dos domingos de manhã que o pessoal da zona saloia tanto aprecia...


http://mysillythings.wordpress.com/2008/12/05/nomes-esquisitos/

[Júlio]

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas
águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja…
ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),
como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?",
e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto,
para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes
dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda
à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde),
e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "

(Miguel Esteves Cardoso)


Divirtam-se e bom Fim-de-Semana

Bom dia!

Caro Neves, está aqui um texto interessante e que a mim me chamou a atenção. Pelo menos, dá para conhecer um pouco mais sobre o espaço geográfico nacional.

Quero corrigir-te numa das freguesias por ti enunciadas. Rio Cabrão é uma freguesia pertencente ao concelho de Arcos de Valdevez e não de Ponte do Lima, como referiste.

Conheço perfeitamente essa freguesia e que não se passa lá nada. Contudo, trata-se de um cenário paradisíaco maravilhoso para um fim-de-semana, ou até umas férias com um grupo de amigos e/ou casal. A mão humana ainda não lá chegou. Tem uma catarata deslumbrante onde abunda a truta. Nem de cana precisas para uma obteres uma boa tarde de pesca

E perguntas tu assim. O que é um gajo como tu, vai fazer a uma terra que fica a 5 kms do FIM DO MUNDO, looool?

Pois bem meu caro, o meu pai é natural de Rio Cabrão. Já suscitou algumas cusiosidades aquando da apresentação do seu BI. Qdo vou lá ainda hoje uma 2ª tia minha de 80 e poucos anos abre-me uma super bock com os dentes, ehehehhhh.

Deixo link
http://images.google.pt/imgres?imgurl=h ... hl%3Dpt-PT

[Antonio Neves]

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas
águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja…
ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),
como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?",
e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto,
para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes
dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda
à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde),
e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "

(Miguel Esteves Cardoso)


Divirtam-se e bom Fim-de-Semana

Bom dia!

Caro Neves, está aqui um texto interessante e que a mim me chamou a atenção. Pelo menos, dá para conhecer um pouco mais sobre o espaço geográfico nacional.

Quero corrigir-te numa das freguesias por ti enunciadas. Rio Cabrão é uma freguesia pertencente ao concelho de Arcos de Valdevez e não de Ponte do Lima, como referiste.

Conheço perfeitamente essa freguesia e que não se passa lá nada. Contudo, trata-se de um cenário paradisíaco maravilhoso para um fim-de-semana, ou até umas férias com um grupo de amigos e/ou casal. A mão humana ainda não lá chegou. Tem uma catarata deslumbrante onde abunda a truta. Nem de cana precisas para uma obteres uma boa tarde de pesca

E perguntas tu assim. O que é um gajo como tu, vai fazer a uma terra que fica a 5 kms do FIM DO MUNDO, looool?

Pois bem meu caro, o meu pai é natural de Rio Cabrão. Já suscitou algumas cusiosidades aquando da apresentação do seu BI. Qdo vou lá ainda hoje uma 2ª tia minha de 80 e poucos anos abre-me uma super bock com os dentes, ehehehhhh.

Deixo link
http://images.google.pt/imgres?imgurl=h ... hl%3Dpt-PT

Amigo Julio, o teu pai que se vá queixar ao Miguel E.Cardoso, apenas é uma citação do artista, que por sinal além de ser tripeiro é ignorante

[nmcanhao]

[quote="
Amigo Julio, o teu pai que se vá queixar ao Miguel E.Cardoso, apenas é uma citação do artista, que por sinal além de ser tripeiro é ignorante [/quote]

Sim alguem que diz mal de Moscavide ....
Ele ele que vá levar n.... pevide pode ser !!!!

[KELHO]

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)

Se bem me recordo também cresceste na Cova da Piedade, ainda que cada vez mais pareça a ChinaTown de Almada não deixa de ser a minha terra!!! Por isso ronka baixinho se não todos os dias largo 5 litros de oleo na curva em frente à tua casa!!!!! Acordas com o 42 para palhais dentro de casa e lembraste que não é bom gozar com a malta das BARROKAS!!

[Antonio Neves]

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)

Se bem me recordo também cresceste na Cova da Piedade, ainda que cada vez mais pareça a ChinaTown de Almada não deixa de ser a minha terra!!! Por isso ronka baixinho se não todos os dias largo 5 litros de oleo na curva em frente à tua casa!!!!! Acordas com o 42 para palhais dentro de casa e lembraste que não é bom gozar com a malta das BARROKAS!!

Olha, olha, o menino da Marisol está a xiar , também não viste que quem disse esta m.e.r.d.a, foi o outro???????????

Deves estar a querer que fure a piscina da SFUAP, para te dar uma limpezazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzita em casa!!!!!!!!

[KELHO]

AMIGO!! era um favor k fazias!!! contratar uns talibans para explodir com esse mono!! mas olha k não deve chegar para lavar o 3º andar!!

[XNita]

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!

Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas
águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja…
ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),
como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?",
e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto,
para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes
dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda
à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde),
e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).

¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "

(Miguel Esteves Cardoso)


Divirtam-se e bom Fim-de-Semana

Só li agora o texto:)ainda estou com um sorriso nos lábios
Muito bom.